quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Antibiótico veterinário mata células-tronco cancerosas em ratos, segundo estudo

da BBC Brasil

Pesquisadores americanos da Instituto Broad, de Boston, ligado ao MIT e à Universidade Harvard, afirmam que encontraram um composto químico, que era usado para tratamento de gado e aves, que mata as raras e agressivas células cancerosas que têm a habilidade de formar novos tumores.

Estas células, chamadas de células-tronco cancerosas, permitem que o câncer se espalhe e também reapareça depois do que parecia ser um tratamento bem sucedido, além de também poder ser a causa dos tumores secundários.

Chegar até estas células com os tratamentos disponíveis é muito difícil. As técnicas tradicionais envolvem cirurgia, cortando o máximo possível do câncer e tentando matar suas células restantes com radiação.

Estes métodos nem sempre funcionam, pois as células-tronco cancerosas --que são a raiz do câncer-- geralmente sobrevivem.

Outro problema apontado pelos pesquisadores é que células cancerosas podem estar enterradas profundamente entre tecidos e órgãos como o cérebro ou o fígado. Então, as tentativas de tratamento convencional nestes casos também significam uma ameaça à vida do paciente.

Mas os pesquisadores encontraram um medicamento já existente, a salinomicina --um antibiótico já usado para tratar infecções intestinais em gado e aves--, que conseguiu destruir as células-tronco cancerosas em ratos.

"Muitas terapias matam o grosso de um tumor, apenas para que ele volte a crescer", afirmou Eric Lander, diretor do Instituto Broad e autor da pesquisa publicada na revista especializada "Cell". "Este [estudo] aumenta a perspectiva de novos tipos de terapias contra o câncer."

Dificuldades

Os pesquisadores de terapias contra o câncer lutavam para tentar estudar as células-tronco cancerosas em laboratório. A raridade relativa destas células comparadas com outras células de tumores, combinada com a tendência dessas células de perderem suas propriedades de células-tronco quando cultivadas fora do corpo, limitavam a quantidade de material disponível para análise.

Mas os pesquisadores usaram técnicas já existentes para "treinar" células adultas a passarem por uma mudança importante, que altera sua forma e mobilidade. Ao mesmo tempo, as células podem adotar propriedades semelhantes às das células-tronco.

Com um grande número dessas células-tronco em mãos, a equipe de pesquisadores de Boston fez uma análise em ampla escala de milhares de compostos químicos, aplicando métodos automáticos para procurar pelos que tinham atividade contra células-tronco de câncer de mama.

Foram testados 16 mil compostos químicos. De um grupo de mais de 30 candidatos mais promissores, os pesquisadores identificaram a salinomicina, que apresentou uma potência surpreendente.

A salinomicina matou não apenas as células-tronco cancerosas criadas em laboratório, mas também as naturais.

Comparada a um medicamento quimioterápico comum receitados para casos de câncer de mama, conhecida como paclitaxel, a salinomicina reduziu o número células-tronco cancerosas em mais de cem vezes. E também diminuiu o crescimento de tumores de mama em ratos.

Os pesquisadores afirmam que esta descoberta é um marco científico, mas acrescentam que ainda é muito cedo para saber se os pacientes de câncer vão se beneficiar com ela.

Ainda é necessária a realização de mais pesquisas para determinar exatamente como a salinomicina funciona para matar as células-tronco cancerosas e se tem o mesmo poder de reduzir tumores em humanos, um tipo de análise que pode levar vários anos.

Os cientistas afirmam que esta foi uma experiência de prova de princípio e que o mesmo medicamento não deverá ter o mesmo efeito em humanos, mas outros remédios semelhantes poderão ser usados em tratamentos no futuro.

Para um outro autor da pesquisa e diretor do Instituto Broad, Pyush Gupta, o estudo "sugere uma abordagem geral para encontrar novas terapias contra o câncer que podem ser aplicadas a qualquer tumor sólido mantido por células-tronco cancerosas".

http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u609732.shtml

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